Mesmo quando não existia a internet, os alunos já tinham o costume de copiar trechos inteiros de enciclopédias nos trabalhos escolares. Porém, a facilidade de colocar palavras-chave em sites de busca e ali surgir toda o conteúdo exigido em uma tarefa tem resultado em preocupação para os professores, que encontram mecanismos para evitar a ação dos alunos plagiadores.
Adriana Iassuda, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental do Colégio Itatiaia, em São Paulo, afirma que os professores estão precavidos. “Os alunos acham que não usamos a internet, que não fazemos parte desse mundo”, comenta. “A verdade é que, assim como eles procuram no Google por um trabalho pronto, os educadores já têm o costume de colocar trechos desse trabalho também nos sites de busca para descobrir se é original”.
Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental a prática de copiar não é tão comum, avalia Priscila Rocha, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental Um do Educandário Monteiro Lobato, no Rio de Janeiro. Isso porque os professores costumam indicar o laboratório de informática para a realização de pesquisas, e lá os monitores podem dar suporte. Já a partir do 6º ano, o adolescente é mais independente e quer testar limites, aí a tentação de copiar é grande, diz a professora.
A solução é propor atividades a partir do conteúdo e não simplesmente pedir que tragam informações. Priscila sugere a criação de seminários, em que o tema estudado é debatido pela turma. Outra possibilidade é que os estudantes apresentem na frente dos colegas o que pesquisaram ou que escrevam. Dessa maneira, o aluno é obrigado a refletir e a comprender o que pesquisou.
No Colégio Itatiaia, a estratégia é parecida. “Não aceitamos que ele simplesmente imprima algo da internet. A criança tem de elaborar um texto a partir da pesquisa”, afirma Adriana. Para saber se ela leu e compreendeu, o aluno é obrigado a escrever uma síntese ou apresentar o seu trabalho para o professor.
Caso se comprove que o aluno realmente cometeu plágio, ele é obrigado a refazer o trabalho. “Normalmente isso acontece com quem deixou para a última hora”, diz Adriana. Se não for uma prática recorrente, a coordenadora conta que os pais não são chamados na escola. Já no Itatiaia, a família deve ir ao colégio na primeira vez em que o problema acontece. “Chamamos o responsável e a orientadora educacional pontua essa questão para pais e filho”, afirma Priscila.
Monografias
O ato de plagiar os trabalhos não é comum apenas no colégio, ele também acontece com projetos finais de graduação e de pós-graduação. “De uns tempos para cá, notamos que muitos alunos começaram a querer bancar os ‘espertos’”, afirma André Valle, coordenador de MBA em Gerenciamento de Projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBS).
Com tantos serviços disponíveis para a compra de monografias e outras tantas simplesmente prontas na web, a solução foi profissionalizar a verificação desse material. Se antes os professores apenas lançavam em sites de busca alguns trechos da pesquisa, agora a Fundação utiliza um software específico para farejar plágios, o Éphoros.
Como o programa roda no servidor, mantém o computador ágil, e os professores podem salvar o trabalho no Éphoros em um dia e buscá-lo no outro. “Ele te dá toda a prova do crime, fornecendo um relatório completo com as referências de todos os trechos do texto”, diz Valle. A eficiência do programa já mostrou resultado e diminuiu as cópias de 20% dos trabalhos para menos de 1% em um ano. Valle ressalta que citações de outros autores são bem-vindas, só não dá para copiar uma parte e chamar de seu.
Artigo disponível no site Rota 83