Seu aluno anda irritado, agressivo e não consegue ficar parado. Tira a concentração dos colegas, atrapalha a aula, não presta atenção nas explicações e se sai cada vez pior nas avaliações. Você até tenta controlar a situação, achando que se trata de indisciplina. É possível, no entanto, que o caso seja mais sério. Ele pode sofrer de estresse. Apesar de parecer relacionado exclusivamente a adultos, o mal também se manifesta em crianças e jovens em idade escolar.
O problema é que os sintomas se confundem com mau comportamento, rebeldia ou hiperatividade. Por isso é necessário estar atento para ajudar da forma correta. "O estresse não é uma doença, mas um conjunto de reações físicas e psicológicas que, se não tratadas a tempo, podem resultar em doenças", explica a psicóloga Marilda Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle de Stress, de Campinas (SP).
O estresse reduz a imunidade, enfraquecendo o organismo. "A criança fica frágil diante de doenças para as quais já tenha alguma tendência genética, como diabete, ou aquelas oportunistas, como gripe", afirma. Porta de entrada para a depressão, precisa ser logo identificado. Estando tão próximo da turma, você tem condições de auxiliar nesse diagnóstico. Confira a seguir o que pode causar o problema, como detectá-lo e o que é possível fazer em sala de aula para auxiliar as vítimas.
Onde Tratar
A decisão de encaminhar o aluno à terapia cabe apenas aos pais. Se eles não tiverem condições de arcar com um tratamento particular, informe que existem clínicas ligadas a universidades que prestam atendimento gratuito. Peça ajuda à direção da escola para fazer os contatos.
As maiores causas
O excesso de atividades é um dos causadores do estresse na classe média. É comum a garotada estudar idiomas, fazer esportes e viver às voltas com atividades extracurriculares, além de freqüentar as aulas do ensino regular. Essa rotina frenética traz um desgaste não apenas físico, mas também mental a esses estudantes, que começam desde cedo a exigir demais de si mesmos.
O mal, no entanto, não atinge apenas a elite. Outra fatia da população, bem maior e menos favorecida, que não tem dinheiro para freqüentar tantos cursos, também pode ser acometida pelo mesmo problema. As razões, naturalmente, são outras e envolvem o contato com situações desgastantes: trabalhar para ajudar os pais, cuidar dos irmãos menores e das tarefas domésticas, ir para escola com fome, viver em locais de risco ou ter que tirar boas notas sem contar com ninguém para ajudar nas tarefas escolares. Apesar de tudo isso, eles também são cobrados com relação ao desempenho e à responsabilidade.
Marilda Lipp fez uma pesquisa em que mediu o nível de estresse na clientela de três escolas, uma pública de periferia, uma de zona rural e uma particular. "Os mais estressados pertenciam à instituição pública e 13% deles já tinham níveis severos de desgaste emocional, que comprometiam sua saúde." Entre os que foram alvo do estudo, havia quem morasse em lugares perigosos, que ameaçavam sua integridade física. A falta de perspectivas para o futuro era outro agravante.
De acordo com a pesquisadora, a maior de todas as causas para o estresse infantil é a falta de tempo para brincar. Soma-se a isso a importância de haver um lugar seguro para que os pequenos se divirtam, sempre sob a supervisão e os cuidados de um adulto. "O tempo livre para criar e inventar, sem cobranças, é essencial para o desenvolvimento infantil", afirma. Confira outras causas para o estresse:
presenciar discussões e agressões em família; separação ou novo casamento dos pais; e nascimento de um irmão;
ausência de limites ou de orientação de um adulto, que causa insegurança;
doença ou morte de alguém querido;
desemprego dos pais, que traz ansiedade e incerteza;
necessidade de ser hospitalizado ou estar sempre sob cuidados médicos;
programas de televisão violentos.
Os sinais mais freqüentes
O estresse se manifesta de maneira semelhante nas faixas etárias que correspondem à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental. Os sinais relacionados abaixo, isoladamente, não são indícios do mal, mas fique alerta para uma mudança brusca no comportamento ou se notar que o estudante apresenta dois desses sintomas ou mais:
demonstração de vários medos;
dificuldade de concentração;
pesadelos e dificuldade para dormir;
choro (no caso dos menores);
agressividade e irritabilidade;
isolamento e falta de prazer em estar com os amigos;
sensibilidade a críticas.
Paciência e conversa: as armas do professor
Lembre-se de que você é um modelo para seus alunos. Quando perde o controle, não ensina, com exemplos, como é possível administrar problemas ou situações difíceis. "Se o professor diminui o nível de estresse em sala, melhora o ensino e o relacionamento com os alunos", afirma a psicóloga Valquiria Aparecida Cintra Tricoli, de Atibaia (SP). Não cabe a você fazer o papel de terapeuta, mas há formas de evitar o problema e de amenizá-lo quando já existe.
Converse com o aluno para saber como ele se sente, mas não force o diálogo.
Mostre-se disponível para ajudar. Assim ele ficará à vontade para falar de suas aflições.
Seja paciente. Gritar pode piorar o estado emocional da criança ou do adolescente.
Essa postura não deve ser confundida com admitir indisciplina ou o não cumprimento de tarefas.
Se for necessário chamar a atenção do estudante, fale com ele em particular.
Faça uma auto-avaliação e veja se suas atitudes podem estar agravando o problema.
Incentive a colaboração em classe e a valorização do sucesso dos colegas.
http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/calma-isso-pode-ser-estresse-431457.shtml