sábado, 4 de setembro de 2010

Plano de aula - O princípio do jogo

Objetivos: Relacionar as teorias sobre a origem do Universo e as primeiras concepções filosóficas
Atividades: 1ª aula: Apresente à garotada o conceito de arkhé, ou seja, de princípio, que está difundido tanto nas pesquisas filosóficas quanto nas ciências e na religião. A pergunta sobre a origem é a indagação sobre a arkhé, e, ao longo dos séculos, várias foram as respostas sugeridas pelos diversos tipos de conhecimento. Aqui, cabe examinar as oposições ciência x religião, focalizada na revista, e filosofia x religião. Saliente as passagens referentes à divinização da natureza nas mais diferentes culturas. Conte que as religiões da Antiguidade não apenas recorriam a um poder divino para explicar a origem do Universo, mas também conferiam estatuto sagrado aos elementos naturais. Na Grécia pré-clássica, por exemplo, estava amplamente difundida a crença na divindade da natureza e nos ritos como meio de apaziguamento da cólera dos deuses e de agradecimento pelas colheitas abundantes. Acrescente que os mitos gregos de criação, apresentados no século VII a.C. por Hesíodo no poema Teogonia, não previam um início repentino para o cosmo, à semelhança do Big Bang. Neles, a noite surge em dado momento e o dia, em outro. A criação acontece gradualmente: os deuses são gerados uns dos outros, por meio do enlace amoroso ou a partir de partes dos corpos dos pais, como Atena, da cabeça de Zeus, e Afrodite, da espuma do mar formada pelo sêmen de Urano. Nesse contexto, a Filosofia, como busca da arkhé, constituiu-se numa procura pela unidade, ou seja, do momento único da criação. A empreitada filosófica, originariamente, consistiu em encontrar na própria natureza, valendo-se da observação, a explicação para os fenômenos, sem a intervenção de uma potência divina. Por isso, a Filosofia configura-se em um saber diverso do religioso assim como hoje os pesquisadores do Big Bang voltam-se para a natureza a fim de explicá-la de maneira desdivinizada. Ensine que essa guinada radical no pensamento grego teve início nos séculos VII e VI a.C. com Tales de Mileto, o primeiro dos filósofos. Ele e outros fisiólogos posteriores atribuíram a formação do cosmo a diferentes elementos. Para Tales, todas as coisas eram feitas de água; Anaxímenes via o início de tudo no ar; Xenófanes dava um lugar de destaque à terra e Heráclito reconhecia no fogo o elemento formador do Universo e do espírito humano. Já nos séculos V e IV a.C., Demócrito afirmou que tudo o que existia era composto de átomos, partículas indivisíveis (átomo, em grego, significa justamente não divisível). Ele postulou também a existência de um universo infinito, com muitos outros mundos semelhantes ao nosso. No século XIX, a teoria atômica seria retomada, em bases mais rigorosas, pela ciência moderna. A seguir, proponha a discussão de alguns trechos publicados por VEJA. Destaque: Ocorre que os mitos da criação surgiram em períodos nos quais muito pouco se sabia sobre as leis da Física ou da Química. Será que o desconhecimento das leis da natureza pode ser considerado a causa para a elaboração mítica da origem? E atualmente, com o desenvolvimento físico, biológico e químico, estamos livres das explicações divinas para a criação? Pelo contrário. A despeito dos progressos no campo científico, mais que em outras épocas, a proliferação de novas seitas e novos cultos encontra-se em ritmo acelerado. Como os jovens olham para essa aparente incongruência entre, de um lado, inovações e descobertas científicas e, do outro lado, a busca cada vez maior por explicações religiosas/míticas que são, na verdade, metafísicas? Quais são as convicções religiosas dos alunos? De que maneira elas contradizem, ou não, as descobertas e o avanço científico? Nesse ponto, é possível estabelecer uma ponte com a parte final do texto, em que o autor sugere que a semelhança entre as metáforas religiosas e as descobertas das ciências reflete a própria limitação da capacidade humana para lidar com assuntos que vão além de seu alcance. Outros temas interessantes para debater: por que o pensamento mítico dos antigos gregos difere das concepções judaico-cristãs? Em que medida tanto o cristianismo quanto a ciência moderna são herdeiros do pensamento dos fisiólogos, preocupados com um único princípio singular responsável pela pluralidade dos fenômenos universais?
2ª aula: A revista realça a noção agostiniana sobre um tema que vale a pena retomar na sala de aula: o tempo. Peça que os estudantes o definam e anote as respostas no quadro-negro. Em seguida, explique que, para Santo Agostinho, o tempo foi criado por Deus juntamente com o homem e, por isso mesmo, pensá-lo só faz sentido quando relacionado às sensações e impressões humanas. Para o filósofo, ele é a mudança pela qual a própria alma ou a consciência humana passam em relação a si e ao mundo, o que torna improfícuo pensar em um tempo anterior à criação. Segundo Agostinho, antes de Deus não havia tempo, já que antes dele não havia nada, assim como antes do Big Bang não havia nem espaço nem forças naturais. Para terminar, encomende uma dissertação individual sobre o que, de fato, diferenciaria a explicação mítica da explicação científica. É importante a turma perceber que a religião sempre atrela as causas ao poder divino, enquanto a ciência e a filosofia moderna procuram encontrar as origens dos acontecimentos fenomênicos em leis naturais.

Plano de aula disponível no site da Revista Nova Escola